Dez adolescentes que cumprem medida socioeducativa em Governador Valadares foram selecionados para participar do Projeto Conte um Conto, que, após uma mentoria literária, resultará na publicação de um livro no início de 2022.

A iniciativa é executada pelo Centro Socioeducativo de Governador Valadares em parceria com a Escola Estadual São Francisco Assis, que funciona dentro da unidade, e o Ministério Público do Trabalho, que intermediou o repasse de verbas do Conselho Comunitário de Segurança Preventiva de Governador Valadares (CONSEP-GV).

O livro será o resultado do processo criativo de cinco encontros, realizados no início de dezembro, orientados pela escritora Gabriela Santos, com um compilado dos contos produzidos pelos jovens durante a mentoria. Foram abordadas questões técnicas, semânticas e criativas e, ao final, todos receberam certificado de participação.

Os recursos, no valor de nove mil reais, advindos do Conselho Comunitário e do caixa da escola, irão custear todos os serviços e processos editoriais necessários para a publicação, com tiragem inicial de cerca de 200 exemplares. Os dez jovens foram selecionados após análise de uma comissão formada pela equipe técnica multidisciplinar da unidade e profissionais da escola, que verificaram as aptidões e os interesses dos alunos.

No início de 2022, um evento com a participação da comunidade, instituições parceiras e autoridades da região, marcará o lançamento do livro. Renato Batista, diretor-geral da unidade, conta que o projeto é fruto da observação de um trabalho que já é desenvolvido no local. “Percebemos o interesse deles para a leitura e decidimos desenvolver esse projeto, estimulando a escrita e a criatividade. O que tem nos surpreendido é o amplo interesse deles e o comprometimento com o trabalho. Nota-se que é possível extrair dos textos produzidos anseios, sonhos, dúvidas e novas perspectivas de vida por trás de cada frase”, conta o diretor.

A escola, além de colaborar financeiramente com o custeio da produção, também participou ativamente por meio de seus profissionais, na primeira etapa do projeto. Os professores de Língua Portuguesa e Artes prepararam os alunos, apresentando a eles o gênero literário do conto, com a proposta: quem conta um conto aumenta um ponto. Nas atividades em sala de aula, os jovens usaram a criatividade, reescreveram e ilustraram contos que lhes foram apresentados. “Nós entendemos que o projeto contribui para a construção do conhecimento junto aos alunos, já que trabalha ortografia, caligrafia, vocabulário e oralidade; são muitos ganhos”, observa a diretora da escola, Fernanda Hemerly.

O procurador Gustavo Souto, da Procuradoria do Trabalho no Município de Governador Valadares, acredita que o incentivo é importante, pois, além do projeto 'Conte um Conto' desenvolver a escrita e a linguística, também é uma ferramenta que trabalha a autoestima. “O participante se vê como criador de uma história, um conto, fazendo-o refletir sobre diversos aspectos da vida. Leitura e escrita são exercícios de liberdade e autoconhecimento”, destaca.

Mentoria Literária

A escritora mineira, Gabriela Lopes dos Santos, com formação na área do Direito, cinco livros publicados, participante de academias de letras nacionais e internacionais e com 17 premiações, foi a responsável pela mentoria dos encontros. Este é seu primeiro contato com o público socioeducativo, mas já possui vasta experiência com projetos sociais. Uma ação recente foi a arrecadação de 4 mil livros para doação a populações da África. “Os livros, por lá, são artigos de luxo. Quando temos que nos preocupar com a alimentação, o conhecimento vai ficando em segundo plano”.

Gabriela, que foi orientando cada dúvida dos jovens, conta que esta nova experiência também serviu para ampliar o seu conhecimento. “Com este contato, percebi que o sistema socioeducativo tem todo sentido. Os profissionais e os meninos acreditam em um futuro melhor; só depende da escolha feita quando saírem, a decisão tomada é que fará a diferença”. Em relação à participação do grupo, relata que havia interesse e satisfação em aprender. “Eles perceberam que estava na mão deles a construção dos contos. O foco era a criação, mas a correção, com muito perfeccionismo, será feita para o livro”, pondera.

Pedro*, de 18 anos, nunca imaginou ter um livro publicado. Ele diz que durante o projeto chegou a escrever três contos, inspirando-se na história de conhecidos e na sua. “Fiquei com receio de não saber fazer, mas deu certo. Achava que era coisa de outro mundo, mas a Gabriela mostrou que cada um tem sua criatividade. Uma história muda, conforme o ponto de vista”. Para o futuro, Pedro*, que parou os estudos no primeiro ano do ensino médio, também faz planos. “Quero finalizar o ensino médio e me tornar advogado. É um profissional que pode ajudar várias pessoas, e não são todos que têm condições de ter acesso”, compartilha o jovem.

Com um gosto literário voltado para a biografia e o romance, Victor*, de 17 anos, também integra o grupo do projeto de contos. “Achei que era fora do normal, com a estrutura que recebemos, facilitou. Nunca pensei chegar neste ponto”.

Reprodução Sejusp 

 

 

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