Uma sala de cinema cheia de estudantes na plateia para assistir filmes roteirizados, interpretados e dirigidos por eles mesmos durante o ano letivo. É assim o projeto “Chico de Cinema”, criado em 1998 pelo professor de língua portuguesa José Adalberto de Moura, que está em cartaz nas salas de aula da rede estadual de Divinópolis, no Centro-Oeste mineiro.
Atualmente lecionando nas escolas estaduais São Francisco de Assis e Joaquim Nabuco, o professor conta que pensou em um projeto que trabalhasse o protagonismo do estudante, que fosse construído por meio de interdisciplinaridades e que cativasse seu interesse. Fã de cinema, José Adalberto propõe que estudantes criem os próprios filmes discutindo, planejando e executando todas as etapas que envolvem uma obra de cinema como: roteiro, direção, atuação, fotografia e trilha sonora.
O professor conta que o projeto acontece anualmente, com início em maio, e finaliza com uma noite de tapete vermelho no cinema do município. “A gente começa com a sensibilização da história do cinema. Conhece alguns filmes, faz análise, trabalha o senso crítico. A partir de agosto, os grupos produzem e escrevem os roteiros e em setembro começamos a gravar”, detalha o professor. Depois da exibição, os melhores filmes são premiados em 12 categorias, que vão de melhor diretor a melhor figurino.
Estudante do 9º ano na E.E. Joaquim Nabuco, Matheus Bernar dirigiu colegas de sala de aula no curta “Sombras da Morte”. Uma história que se passa em um vilarejo, onde pessoas começam a desaparecer misteriosamente, o que atrai um jornalista a investigar as causas por trás do mistério. “Participei do projeto em 2023 como diretor do filme e acho que foi interessante participar, pude dirigir e ajudar as pessoas que estavam no filme”, diz o estudante.
Diferentes habilidades cognitivas e sociais são desenvolvidas pelos estudantes ao longo dos sete meses do projeto. Além do português, professores de história, ciências e inglês são convidados a participarem do projeto. “Convido sempre os professores de história para que juntos possamos analisar o filme do ponto de vista histórico. Na língua inglesa, porque eles precisam pensar em traduções e adaptações. O professor de ciências também pode trabalhar junto comigo os aspectos técnicos de um assunto abordado. É um projeto grandioso”, diz o criador.
Além de explorar a oralidade, variações linguísticas e gramaticais, o professor conta que por meio da produção de roteiros e discussões em grupos sobre as tramas, os estudantes também potencializam o senso de responsabilidade e a socialização.
Diretora do “A Arte Criminosa”, Gabrielli Tavares, do 9º ano, descreve como ‘incrível’ a experiência de planejar um filme durante as aulas.“Pude aprender muita coisa nova. Foi muito bacana entender como tudo acontece atrás das câmeras e poder participar disso com as minhas amigas”, conta.