No centro das mudanças do ensino médio, as eletivas surgiram para mirar as lentes no protagonista de uma jornada de três anos de formação educacional e socioemocional: o estudante.
Para atender às necessidades específicas de uma vasta rede de ensino com mais de 2.400 escolas que oferecem o ensino médio, a Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais (SEE/MG) conduziu um processo de escuta colaborativa que resultou em um catálogo com 75 propostas de Eletivas em 2024.
Uma pesquisa do Datafolha, divulgada em março, revelou que 65% dos jovens ingressantes no ensino médio desejam um currículo “flexível”. Isso evidencia que quase dois em cada três jovens entre 14 e 16 anos que começaram o 1º ano do ensino médio em 2024 almejam um modelo de escola com uma parte comum a todos e outra na qual possam aprofundar conhecimentos em áreas de interesse ou integrar cursos profissionalizantes.
Em Minas Gerais, além de assegurar a disponibilidade de todos os componentes curriculares na Formação Geral Básica (FBG), conforme a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que totalizam 1,8 mil horas da carga horária, o estado reserva 1,2 mil horas para o Itinerário Formativo. As eletivas compõem a parte flexível do currículo, representando duas escolhas de cada estudante.
Na prática, enquanto os componentes curriculares obrigatórios, como Língua Portuguesa e Matemática, fornecem uma base sólida de conhecimento, as eletivas oferecem uma oportunidade única para os estudantes explorarem seus interesses, desenvolverem habilidades específicas e expandirem seus horizontes acadêmicos e pessoais.
A partir da homologação do Currículo Referência de Minas Gerais (CRMG), a primeira versão do Catálogo de Eletivas, produzido para o ano letivo de 2022, surgiu a partir de experiências desenvolvidas nas escolas-piloto do Novo Ensino Médio da SEE/MG e das vivências do Ensino Médio em Tempo Integral (Emti), que desde 2017 pensavam possibilidades que agregassem maior aprendizado aos estudantes. O resultado foi um documento, concebido por professores da rede com 42 opções de eletivas agrupadas por áreas e interáreas do conhecimento.
Elaboração das eletivas
A elaboração do catálogo das eletivas de 2024 envolveu uma grande mobilização dos professores da rede estadual pela SEE/MG, resultando em um aumento na oferta para 75 eletivas, tornando-o mais diversificado e contextualizado com as especificidades de cada região mineira.
“Nós pudemos conversar com os nossos professores e contar com a participação deles para elaboração de um novo catálogo com mais de 70 opções, considerando que temos eletivas criadas localmente pelas escolas com a participação dos professores e que, portanto, fazem mais sentido para as especificidades da rede, como Mineração, Entre Aromas e Sabores do Cerrado e Jornalismo Digital”, explica a diretora de Ensino Médio da SEE/MG, Rosely Lima.
Alguns exemplos de eletivas demonstram a variedade de temáticas e o cuidado pedagógico ao incluir propostas construídas com a participação dos professores, além de comunidades quilombolas e indígenas, como Cultura Afro e Quilombola: Afrobrasilidades, Direito e Organização do Território do Povo Kiriri do Acré, Patrimônio Cultural Local: Caatinga, Química e Educação Ambiental e Teoria e Pensamento Político.
Apesar da ampla oferta de possibilidades de eletivas, é importante esclarecer que tratam-se de opções para a escolha do estudante. Ao longo dos três anos de ensino médio, o estudante terá vivenciado, no total, seis eletivas distribuídas em duas aulas semanais, sem prejuízo às 1,8 mil horas da FGB.
Eletivas na prática
Na Escola Estadual Isabel da Silva Polck, em Belo Horizonte, não faltam exemplos de estudantes que conectam suas personalidades e expectativas às aulas das eletivas. São 14 possibilidades definidas após a aplicação de questionário sobre as preferências de mais 500 estudantes matriculados do 1º ao 3º ano do ensino médio.
Com planos de seguir carreira na área de audiovisual, Pedro Cunha, 16 anos, estudante do 2º ano, cursa a eletiva de Cinema. “Grande parcela da população não tem acesso ao cinema por questões financeiras. Quando estudantes de uma escola estadual pública têm acesso a esse conhecimento é uma forma muito interessante de saber mais sobre audiovisual e da história do cinema”, diz.
Já Ana Cristine Silva, de 17 anos, cursa o 3º ano e planeja ser médica. A jovem optou pelas eletivas de Astronomia e Esporte e Inclusão. “A que mais me identifico é Astronomia. A gente trabalha muito observando o espaço e os planetas. Temos um projeto também onde vamos ao Observatório da UFMG, o que eu acho incrível”, conta.
Apesar da preferência pelas estrelas, Ana destaca que durante as aulas de Esporte e Inclusão, na qual, por exemplo, joga futebol com os olhos vendados, aprende a exercitar a empatia. “A gente literalmente aprende a se colocar no lugar do outro, agir de uma maneira mais inclusiva e acolhê-los mais do que o que acontece na sociedade, que sempre exclui as pessoas por causa de suas condições. A gente aprende quais são os desafios deles e o que eles fazem para concluir esses desafios”, diz a jovem que sonha com uma profissão dedicada ao cuidado da saúde.
Lucas Abreu, professor de Física, leciona três aulas semanais da eletiva de Astronomia e enxerga o potencial dessas aulas na formação do indivíduo. “As eletivas criam oportunidades muito importantes para as pessoas alcançarem seus interesses para além das disciplinas da formação geral básica”.